AFINAL O QUE É TREINAMENTO AERÓBIO?
Desde a
Grécia antiga, as primeiras competições se resumiam basicamente às corridas;
este fato ilustra a importância dada á modalidade pelos atletas e treinadores
da época, sabedores do seu valor na formação de um corpo forte, resistente e
bem proporcionado esteticamente, haja visto a perfeição em todos os planos ser
uma busca constante daquela civilização.
Bompa
(2004) e Guiselini (2007) são categóricos ao afirmar que a base aeróbica é
fundamental para o fortalecimento geral do organismo e que antecede os outros
métodos de treinamento; Campos (2008) completa, dizendo que as adaptações
especificas dos exercícios aeróbios são importantes para o aumento dos
benefícios adquiridos pelo treinamento com carga (musculação).
Cabe aqui
destacar a importância da vascularização decorrente do treinamento aeróbio,
fundamental para que os vasos sanguíneos sejam capazes de transportar mais
oxigênio e nutrientes para a musculatura.
Zatsiorski
(1999) apud Hernandes Junior (2002) afirma que o treinamento de força máxima
resulta em efeitos negativos sobre a aquisição de resistência aeróbia,sendo que
o inverso não é verdadeiro; partindo desta afirmação, podemos concluir que,
mesmo em esportes onde a força e potência são as principais valências envolvidas,
o treinamento aeróbio constrói a base sólida para que o máximo desempenho possa
ser alcançado.
Os
autores da atualidade apenas vêm confirmando o que Cooper havia descoberto a
mais de meio século, porém é importante ressaltar que avanços nos campos da fisiologia
do exercício, bioquímica e áreas afins contribuem para o aperfeiçoamento do processo de
treinamento.
O
treinamento contínuo se baseia nos exercícios tipicamente aeróbios, também
chamados de exercícios cíclicos , cuja duração prolongada e intensidade baixa a
moderada provocam melhoras no transporte de oxigênio até o nível
celular,desenvolvendo a resistência aeróbia [WILMORE e COSTILL, 1988 apud
SANTOS 2003]; as adaptações induzidas por este tipo de exercício são, conforme
foi mencionado acima, importantíssimas não apenas para os desportos de
endurance,mas também fundamentais para que o organismo se fortaleça e suporte
cargas maiores de treinamento anaeróbio e de força, inclusive.
A melhor
definição de exercício aeróbico, logicamente, vem do homem que o criou, o
médico e coronel da Força Aérea dos EUA, Dr. Kenneth Cooper. Segundo Cooper
(1968 apud GUISELINI 2007), aeróbios são “exercícios de baixo moderada
intensidade, que podem ser realizados por período prolongado, graças ao
equilíbrio existente entre o consumo e débito de oxigênio que o organismo
necessita para a produção de energia”.
Os
exercícios aeróbios têm em comum a característica de se desenvolverem de
maneira contínua, conforme já foi observado; Cooper (1983) cita que os melhores
exercícios para o aperfeiçoamento da resistência geral são: correr, nadar,
pedalar, caminhar, correr no mesmo lugar, jogar futebol e basquete, exatamente
nesta ordem.
Após
vários testes e estudos comparativos, verificou-se, na época de Cooper,que a
corrida era a atividade onde ficavam mais evidenciadas as adaptações provocadas
pelo treinamento aeróbio; além disso, devido à praticidade e simplicidade que a
modalidade oferece, é a ideal para ser praticada por todos, cada um segundo seu
nível de condicionamento. Cooper realmente
provocou uma polêmica quando afirmou que o treinamento aeróbio, ou seja, o
desenvolvimento da resistência geral, era a base para se adquirir e aperfeiçoar
todas as outras valências físicas; entretanto, provou que estava certo com
inúmeros exemplos práticos, em princípio na própria Força Aérea e depois em
todo o território norte-americano.
Seu
método chegou ao Brasil na década de 70, e a associação do seu nome às corridas
foi tanta que, naquela época, corrida era sinônimo de Cooper, no sentido literal
da palavra: as pistas de corrida nos parques eram chamadas de “pistas de
cooper”.
Cooper
(1983) enfatiza que o nosso organismo necessita regularmente, para seu
desenvolvimento, de exercícios e que estes não são apenas úteis para satisfazer
a vaidade da aparência física, mas, principalmente, contribuem de modo decisivo
para a manutenção da saúde e para o prolongamento da vida útil.
A
atividade física é considerada, por muitas pessoas, apenas um meio de manter e
aperfeiçoar a forma física ou de adquirir status se destacando em alguma
modalidade esportiva; infelizmente a maioria da população não consegue perceber
a importância da prática regular de uma modalidade esportiva para a sua saúde
física e mental.
Conforme
Machado (2009) boa parte da população tem uma variedade de tarefas complexas,
envolvendo raciocínio e criatividade, o que, consequentemente, acarreta uma
diminuição do gasto energético e o surgimento de doenças crônico-degenerativas,
ao contrário da sociedade antiga, onde o ser humano tinha como atividades
diárias a corrida e a caminhada.De fato, com o advento da automatização nas
indústrias e os avanços da tecnologia, o ser humano foi ficando cada vez mais
acomodado em suas poltronas cada vez mais confortáveis e com menos trabalho
braçal, ou seja, atividade física.Há 50 anos não eram tão comuns escadas
rolantes ou elevadores, apenas dois dentre tantos exemplos que evidenciam a
quantidade de movimento que o homem executava antigamente, comparada com a
atual.
Esta
inatividade trouxe consequências desastrosas para a sociedade, e Cooper soube
encontrar a solução de maneira bastante simples: propondo às pessoas que se
mantivessem ativas, que fortalecessem seu sistema cardiovascular para
obterem e aperfeiçoarem a saúde física e mental. Embora o aspecto estético
possua um apelo significativo para motivar as pessoas a iniciarem a prática de
algum esporte visando à boa forma, o autor demonstra claramente que a saúde
deve ser a meta principal; isto é particularmente importante quando se percebem
treinamentos exaustivos que nada têm de saudável, sendo realizados por “atletas
de fim de semana” visando uma rápida perda de peso que, na maioria das vezes é
obtida a um alto preço a ser pago futuramente.
Campos
(2008) lembra que a inclusão de exercícios aeróbios é importante por aumentar o
estímulo para a osteogênese, além de melhorar o condicionamento cardiovascular,
a agilidade, coordenação, resistência e diversificar os estímulos promovidos ao
sistema musculoesquelético, pois o estimulo do exercício aeróbio induz estresse
ao esqueleto através de forças de reação do solo.
A
osteoporose é apenas uma das patologias que podem ser evitadas com a prática da
corrida em particular, por tratar se de uma atividade de impacto; por outro
lado, é importante ressaltar a pessoa do treinador enquanto organizador da
planilha de treinos do atleta: este tem por função indicar não apenas o tipo de
exercício e a intensidade, mas também prever situações que evitem o estresse
excessivo, e o tipo de terreno no qual o indivíduo treina é um fator importante
a ser levado em consideração. É possível observar claramente a importância do
treinamento aeróbio contínuo, que desenvolve as condições necessárias no
organismo para que este possa suportar uma intensidade maior, ou ser mais
exigido em outro tipo de treinamento específico; um VO2máx. desenvolvido é
necessário para desempenhos superiores em esportes que envolvam resistência
aeróbia e, como se verificará mais adiante, também em esportes
anaeróbios.
O músculo
cardíaco é altamente aeróbio, respondendo ao estresse das longas distâncias da
mesma maneira que o músculo esquelético responde às curtas, isto é, com o
aumento do número de mitocôndrias, da quantidade de enzimas dentro desta
organela e da densidade capilar (NEWSHOLME;LEECH; DUESTER 2006, p. 185).
Alguns
autores inclusive denominam os treinos aeróbios de “musculação para o coração”,
por efetuarem uma hipertrofia do músculo cardíaco acentuada; este aumento em
espessura, principalmente das paredes
do
ventrículo esquerdo, é a base para que o coração possa suportar esforços
anaeróbios com segurança, e a
sua
deficiência pode ser a causa de algumas mortes súbitas ocorridas recentemente
no futebol, sugerindo que o que faltou aos atletas foi uma preparação física
geral, com base predominantemente aeróbia.
O aumento
da carga a longo prazo, segundo Guyton (2006), desde que não seja
excessivamente a ponto de lesar o coração, faz com que o músculo
cardíacoaumente sua massa e força contrátil, do mesmo modo como o exercício
intenso faz com que ocorra hipertrofia do músculo esquelético.
Em
virtude disso, é comum que os corações de corredores de maratona aumentem suas
massas por até 50% a75%. Isso eleva o nível do platô da curva do débito
cardíaco, por vezes, por até 60 a 100%, permitindo que o coração bombeie
quantidades muito maiores que a normal do débito cardíaco. De fato, o coração é
uma bomba que impulsiona sangue pelas artérias e que, para funcionar de maneira
mais eficiente, precisa ser maior e mais forte; maratonistas realizam a maior
parte de seu treino de forma aeróbia, gerando assim adaptações altamente
benéficas em sua musculatura cardíaca.
Embora o método do exercício contínuo regular
constitua o fundamento do treino de resistência aeróbia, este não deve limitar
exclusivamente a sua aplicação(ZAKHAROV 2003, p.104); esta afirmação vai de
encontro aos estudos de Ozolin(1971) apud Bompa (2002): o autor sugere que se
desenvolva primeiramente a resistência geral e, depois, a resistência
específica, composta por um estímulo de maior intensidade, pois após certo
tempo realizando apenas treinamento aeróbio em total equilíbrio entre a oferta
e o gasto de oxigênio, o organismo se adapta e não mais ocorrem ganhos de
performance.
Dependendo da intensidade das cargas
aplicadas, pode ocorrer a influência seletiva sobre diferentes possibilidades
funcionais do coração. Assim, a aplicação de cargas aeróbias contribui,
predominantemente, para a dilatação do coração, mas não garante a alta força de
contração do miocárdio (ZAKHAROV 2003, p. 105). Em consequência disto,
trabalhos de grande sobrecarga sobre um músculo cardíaco que está habituado
apenas a exercícios de baixa intensidade resultam em um esforço demasiadamente
pesado para ser suportado pelo mesmo, e então há limitação da capacidade de
trabalho.
Hernandes
Junior (2002) e Guiselini (2007) concordam que, nos casos de pessoas descondicionadas
fisicamente deve-se optar pelas baixas intensidades, afim de evitarem-se lesões
e complicações advindas do baixo grau de condicionamento destes indivíduos; os
autores destacam que é necessário dar atenção especial aos indivíduos que estão
deixando o sedentarismo para ingressar num programa de condicionamento físico,
e que este programa deve ser iniciado de maneira muito suave e gradativa.Se por
um lado o treinamento contínuo é o mais indicado para desenvolver as
capacidades cardíacas e pulmonares, é também insuficiente para elevar ou mesmo
manter estas adaptações além de certo ponto, onde ocorre uma estagnação do
rendimento atlético; tornam-se necessários, então, estímulos que exijam das
referidas estruturas uma maior adaptação e que esta se mantenha de maneira
consistente; surge aqui a necessidade de ser incluído, gradativamente, o
treinamento intervalado na rotina de treinos do atleta para que o mesmo perceba
uma evolução em seu condicionamento.
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